Memória de uma Dança Urbana Paulistana

Como dançarino e freqüentador assíduo dos bailes em minha adolescência, trago em minha primeira contribuição para a página da Rolling Soul, uma parte esquecida do início da dança de rua nos bailes de São Paulo. Uma parcela não tão menos importante, pois veio influenciar diretamente no rumo de nossa história no cenário urbano da dança.


Década de 80, com os bailes Black em ascensão, a juventude paulistana ganhava o seu espaço e estabelecia a sua identidade através das festas promovidas pelas principais equipes de som, como Chic Show, Zimbabwe, Kaskatas, Black Mad, Black White, Dinamite e Circuit Power.

Nessa época as pistas de dança eram tomadas pela maestria dos dançarinos de Funk/Soul e também pelos “footworks” dos garotos do Breaking. No comando dos “toca-discos” o show ficava por conta dos DJs, responsáveis por selecionar as músicas que dialogavam diretamente com o gosto do público. Já os “Mestres de Cerimônia”, agitavam a galera através de suas rimas animadas e empolgantes.


Sem dúvidas os “passos marcados” (coreografias) sempre estiveram nos pés de toda essa juventude, e neste mesmo período a chegada da música Rap, exigiu que os passos executados nas músicas “Funk”, ganhassem uma nova leitura, uma nova marcação. Sendo assim, era difícil encontrar nestes bailes algum jovem que não dançasse o “RAP”, nome como a dança era reconhecida.


A lista de intérpretes e grande, podendo citar apenas alguns: Joeski Love, Mc Don, Mc Ec, Bobby Jhimy, FunkMaster Wizard, Original Concept, Sir Mix-A-Lot, Ice-T, d-Nice, King Tree, Too $hort, The D.O.C, Heavy D, Boy White, e por aí vai. Trazidos a São Paulo por essas grandes equipes, vários artistas da música norte-americana, como: Chubb Rock [DJ Innovator], Rodney-o & Joe Cooley [Everlasting Bass], Whodini [I’m a Ho], Koll Moe Dee [Go See the Doctor], se apresentaram em shows memoráveis fazendo a galera pirar. Pepeu [Nome de Meninas], MC Jack [Centro da Cidade], Thaide & DJ Hum [Corpo Fechado], Ndee Naldinho [Melô da Lagartixa] e Sampa Crew [Não Mate a Mata], foram apenas alguns dos primeiros “rappers” em São Paulo a embalarem esses novos passos.



O nome “RAP” foi deixando de ser associado à dança, pois o hit “Melô da Lagartixa” do cantor Ndee Naldinho estava em alta, e era uma das maiores referências na dança dos bailes. Por isso, era comum estes dançarinos serem chamados ou apelidados de “Lagartixa”, e assim, este termo foi e é usado até os dias atuais para classificar esta dança. Na virada da década de 80 para 90, o Clube da Cidade, Bahamas Club, Projeto Radial, Dama Xoc, Asa, Clube Atlético de Osasco, entre tantas outras “casas noturnas” sediaram os primeiros concursos de dança, tornando cada vez mais popular esse movimento.




O grupo American Dance e American Boys, são sempre mencionados por quem curtiu essa fase dos bailes, como os pioneiros neste estilo de dança coreografada. Já outros grupos como, Delírios Boys, Guarulhos Boys, The Best Kids, assim como tantos outros, foram responsáveis cada um em sua fase de popularidade por ditarem moda, tanto no visual, quanto na criação de passos.

Essa fase mágica se estendeu até meados de 2003, quando aos poucos os DJs nos bailes foram deixando de tocar a música “Flash Rap”, dando ênfase em músicas “Pop”, “Hip Hop” e “R&B” que já não possuíam o ritmo e pulso para se dançar os passos do “Lagartixa”. A verdade é que a essência dessa dança está viva na memória e também nos pés de quem fez parte desta grande fase na Dança Urbana em São Paulo. Uma dança com herança do Funk/Soul com influência do Samba Rock e de particularidade paulistana.

CONVERSATION

3 comentários:

  1. bota sentido obrigatório , calça colorida e cacharel
    forever...

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  2. Sampa Cinza City
    "Memórias de uma Dança Urbana Paulistana"

    Se você viveu estes finais de semanas mágicos dos Bailes Black entre as décadas de 80' e 2000', dançou os passinhos marcados, participou de grupos de dança Lagartixa, e quer dividir um pouquinho de suas lembranças, envie-nos um e-mail, com a sua história para: sampacinzacity@hotmail.com ousampacinzacity@gmail.com

    e ajude a resgatar essas memórias.
    Aguardamos ansiosos.

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