ENTREVISTA DA VIBE: "ALICIA KEYS FINALMENTE ENCONTRA A SUA VOZ"

Provavelmente não é mera coincidência que Alicia Keys e seu marido, Kasseem "Swizz Beatz" Dean, estejam combinando as suas calças. A dele: habilmente adaptada e bem acabada, combinando com seus tênis. A Dela: um brim sexy colado por todo o corpo. Ambos da cor de um cappuccino bem-feito. Eles concordaram em serem entrevistados juntos durante um jantar, um encontro duplo!É uma daquelas idéias de entrevistas românticas tramada  por editores de revistas, e Keys, que parece estar mais aberta do que nunca, estava interessada em participar. E não existiria maneira melhor de convencer sobre essa sintonia. Bastava observar seus vestuários.


Entretanto, passando poucas horas com eles, bebendo alguns coquetéis feitos com frutas tropicais, ficou bastante claro que eles não precisam de combinação de roupas para chegarem um ponto de vista em comum. Ele puxa a manga do casaco dela para ajuda-la a vesti-lo. Ela descansa sua mão levemente na coxa dele. Eles irão falar sobre a sua relação  da seguinte forma: “Nós queremos que o mundo inteiro tenham o que nós temos”. E eles vão fazer isso contando sobre o momento que eles descobriram que eram almas gêmeas.





"Foi a coisa mais louca", diz Dean, inclinando-se em sua cadeira. "Nós tivemos um almoço de trabalho com algumas pessoas, e quando eu cheguei em casa e olhei na parte de trás de bolso..."



"Meu cartão de crédito estava no bolso dele"! Alicia termina a história, os olhos arregalados. "Por que meu cartão de crédito estava no bolso dele?"



A explicação poderia ser a de que ele guardou por acaso, quando eles separaram as contas, mas isso seria muito prosaico. Eles viram a derrocada do cartão de crédito como um sinal, o primeiro de muitos.



Bem, segundo, se você contar o tempo, 14 anos atrás, quando eles se conheceram, Dean tentou, sem sucesso, obter o seu número dela com um dos seus amigos. "Não era nossa hora ainda", diz Swizz com um sorriso.



Talvez seja a iluminação ostensiva, o zumbido da bebida ou simplesmente o brilho que tende a saltar fora de pessoas famosas, mas agora definitivamente parece ser o tempo dele. E dela, especialmente! Aos 31 anos, AK é uma das artistas mais vendidas de todos os tempos. Ela lançou cinco álbuns, ganhou 14 Grammys e vendeu mais de 30 milhões de álbuns em todo o mundo. Está trabalhando agora em seu sexto álbum, e ainda assim ela aparece descontraída, acessível, fácil e alegre. Claro, ela sempre pareceu ser assim, mesmo ha tempos atrás, por volta de 2001, quando ela era uma artista nova com  todo o suingue do Harlem (Hell’s Kitchen, NY, raiz de Alicia) promovendo seu primeiro álbum, Songs in A Minor.


Mas deixe que ela diga isso. E esta é a primeira vez em sua vida que ela se sente confortável em sua própria pele.

“É o preco que tenho que pagar”, diz ela, “de ter feito escolhas difíceis, pessoalmente e profissionalmente”.

"Vamos dizer que eu tenho me sentido apenas um pouco desconfortável", disse ela, poucos dias antes, sentada em um sofá vermelho no estúdio de gravação. "Eu fui corajosa o suficiente para me sentir desconfortável."

A história do cartão de crédito, e as principais mudanças que apontaram, devem ter tido alguma coisa a ver com seu novo nível de conforto. Se seu ultimo trabalho musical e seu brilho “Eu-amo-minha-vida” são alguma indicação, portanto, ser desconfortável tem funcionado muito bem para Alicia Keys. “VOCE QUER ENTRAR EM TURNE?”

Alicia levanta-se do sofá no apartamento de três andares que ela mudou ha cerca de um ano atrás. Keys e Dean moram com seu filho Egypt ha pouquíssimos quilômetros de distancia do estúdio de gravação – ele que esta em pleno período de crescimento e a proximidade de casa faz com que seja fácil trabalhar um pouco, em seguida, voltar rapidamente para casa. Isso significa também que, ninguém pode dizer a ela quando pode e não pode gravar mais. Duas coisas que seriam impensáveis há apenas alguns anos atrás.

"Tudo é diferente agora", diz Alicia, entrando na sala de gravação, onde um piano Yamaha gigantesco encontra-se ao lado de um outro muito menor. "TU–DO. Eu nunca tinha feito isso”

Alem  disso, ela refere passar horas a sós compondo, o que poderia explicar o porque - por todas as suas cancoes ostentarem letra profunda e sua voz soar com emoção - seus fãs sabem surpreendentemente muito sobre ela - apesar de você ainda ter a sensação de que não sabe tudo.


Em julho de 2010, Keys rompeu com seu antigo empresario Jeff Robinson, que ela conheceu em um programa pós-escola quando ela era apenas uma fofa pianista com as unhas curtas de 14 anos (embora com formação clássica). Em um comunicado conjunto, anunciaram que essa relação, que durou uma década, foi encerrada, e que ela estaria assumindo o controle total de sua carreira musical.

No mês seguinte, ela e Dean se casaram, adicionando combustível aos rumores sobre quando e como começou sua relação. Dean, que havia se divorciado recentemente da cantora Mashonda, tinha sido alvo de rumores há quase dois anos, com trapos de fofocas e brigas no Twitter que alimentaram o fogo dos boatos. "Havia sido uma traição?" Mentes questionadoras queriam saber. Dean insiste em dizer que não. "Você pode estar tendo sentimentos que você não deveria ter", diz ele. "Eu estava passando por um divórcio conturbado."

Eles mantiveram as coisas no forno até que ambos estivessem solteiros, diz Dean. Mas dois meses depois de terem anunciado oficialmente que eles eram um casal, ela deu à luz ao Egypt. Em algum lugar ao longo do caminho, ela também terminou com o namorado e colaborador de longa data (provavelmente) Kerry "Krucial" Brothers - mas ela nunca confirmou abertamente.

Não é  necessário dizer que, na medida em que grandes acontecimentos da vida ocorreram, ela passou por um monte de outras coisas desde o lançamento do seu quinto álbum de 2009, “The Element of Freedom”. À medida que ela prepara seu sexto cd, ela está fazendo um balanço de tudo isso.


"O contraste é enorme", diz ela. "Eu acho que... de uma menina para uma mulher, existem muitas pessoas que são ..." a voz dela some. Alicia é cuidadosa. "Você tem que encontrar o que é certo para você, e ele pode não ser o que todo mundo diz que é certo para você. Você pode passar sua vida inteira concordando com o que as outras pessoas dizem, desculpando-se e desculpando-se e encontrando uma forma de fingir. Mas então você chega finalmente a um lugar onde você vê as coisas como elas realmente são. Para perceber que, Hey, isso mudou. É hora de fazer diferente! "

Ela não vai dizer exatamente de quem ela está falando, mas um palpite diz que, até recentemente - antes de Dean e antes de Egypt, antes do estúdio e antes que ela transferisse a gestão de sua carreira para a sua própria empresa, AK Worldwide -  que talvez, apenas talvez ela se sentia bastante restrita pelas armadilhas do estrelato.

"O que mudou foi talvez foi o fato da minha opinião ter sido sempre a dos outros, ou as opiniões de outras estarem sempre me balançando para onde eu deveria seguir, 'Deixe-me ir com isto mesmo," mesmo que eu sentisse que algo não estava certo... ", ela diz. "E isso foi, provavelmente, apenas um mecanismo de proteção. Como... bem, eu tinha que confiar em alguém. Desta forma, isso que mudou, e isso é uma grande sensação . Eu confio em mim mesmo agora."

Ela poe Radiohead na sala de som, que tem um número aparentemente infinito de pequenos interruptores coloridos. Em seguida, ela vai para uma alcova ela chama de “Bang Out Room”.

"Você pode se inspirar aqui sem a pressão de gravar qualquer coisa", diz ela. Finalmente, ela segue o caminho até o telhado, com vista para o Rio Hudson. "Não vamos ficar tolhidos agora", diz ela com um sorriso furtivo. "Deixei meu celular em uma xícara de chá ontem. Poderíamos ficar aqui por um bom tempo. "

Voltamos lá embaixo, e ela abre seu laptop. Há uma foto em preto-e-branco de Swizz, sorrindo e segurando o Egypt, descontraído com o que deve ser uma centenas de arquivos. "Essas músicas não estão finalizadas ainda", diz ela, "mas vou te dar uma idéia. Estão ainda cruas ou algo assim." Trinta segundos da primeira música e é claro que ela está certa. O piano ainda está lá, com a voz sincera, em seu estado natural imperfeito, algo que pode lhe dar arrepios! Em algumas das músicas, o baixo é tão forte que sacode o lugar, mas todos os sinos e assobios e os adicionais do estúdio que já fizeram seu som ocasionalmente e equivocadamente soar pop, se foram.

"É uma forma de como as músicas podem respirar", diz ela. Sabe quando ela sempre soou soulful, doce e trancada em um tempo que é passado e alguns críticos chegaram a argumentar que ela estaria sendo um tanto overproduced...? Aqui não. Agora, ela parece crua, e até um pouco irritada em momentos. Ela soa absolutamente feroz.

Justin Vernon, o vocalista do Bon Iver, que recentemente passou alguns dias gravando com ela em sua casa em Fall Creek, Wisconsin, concorda. "É fácil de ver o mundo pop tentando assumir Alicia", diz ele. "Mas eu a vejo como alguém que está tentando desesperadamente ficar na mão da extrema esquerda disso. Ela realmente se preocupa com a música e ela sabe tudo. É legal vê-la em seu lugar, fazendo algo diferente. "

E para você que se preocupa e se pergunta se toda essa felicidade e tra-la-la de amor vai  transformar a musica dela em algo meloso...

"Oh, por favor!", diz ela com uma salva de palmas. "Antes de qualquer coisa,  este tem sido um dos mais desafiantes momentos da minha vida, no que diz respeito a encontrar o meu próprio eu e ser corajosa o suficiente para me separar de coisas que não estavam funcionando para mim", diz ela. "Isso é realmente difícil."

Você pode sentir que, em uma nova sua canção, "A Place of My Own", ela canta: "Eu estou procurando um lugar para chamar de meu / Eu estou procurando uma casa para ser o meu lar / eu estou procurando um lugar no trono ... "

"Assim que me sinto", diz ela. "Eu acho que muitas pessoas se sentem assim." Isso é provavelmente verdade. Mas o que é surpreendente sobre a música é que Alicia Keys se sente assim mesmo.

"Eu acho que eu sempre percebi que estava feliz", diz ela. "Porque eu não estaria? Eu tinha uma ótima vida e podia fazer coisas que eu sempre sonhei, e ir a lugares que eu só imaginava na minha mente, e tudo isso parecia a felicidade para mim”. Ela faz uma pausa por um momento. "Mas eu realmente não conhecia a felicidade até recentemente."

Keys assinou seu primeiro contrato de gravação, com a Columbia Records, quando tinha 16 anos. Diferenças criativas fez um acordo sem saída, mas não importa. Ela tocou o ouvido de Clive Davis, um dos mais bem sucedidos executivos de gravadoras da metade do século passado, com um talento especial para descobrir jovens talentos. Ele assinou com ela pela JRecords, e em 2001, eles lançaram Songs In A Minor. Ele estreou em 1 º lugar nas paradas da Billboard e vendeu mais de 12 milhões de cópias desde então.

"O termo mentor não é aplicável nesse caso", diz Davis. "Isso nunca foi o caso de Alicia, nem mesmo no início. Eu nunca enviei uma música para ela, como eu fiz para Whitney Houston ou Jennifer Hudson. Eu nunca escrevi nada para ela. Eu criei um refúgio, um ambiente de crença total, para que ela pudesse fazer as coisas dela." Em outras palavras, ele ficou fora do caminho. "Tenho inteligência suficiente para saber quando não devo me envolver", ele diz com uma risada suave. "Isso deveria ocorrer assim com Alicia. Eu dei oportunidade, foi apenas isso o que eu fiz."

"Eu tive sorte no sentido de que eu sempre estive no controle da minha música", diz Keys. "Mas a música sempre foi a parte divertida. Todo o resto que tem a ver com a parte de faze-la e leva-la ao publico, essa é a parte que mudou."

Entao se a música foi a parte divertida, a parte menos divertida estava relacionada aos seus 20 anos cercado por pessoas que ela confiou, mas cujas idéias sobre a sua carreira não bateram exatamente com a voz que soava  sua cabeça e dizia: "Espere um minuto. Espere um pouco. Eu posso fazer isso do meu jeito. " 

Por 10 anos, Alicia esteve trabalhando feito uma louca. E por um longo tempo, não importa o quão bem sucedida ela era, não havia fim à vista. "Ela estava ganhando Grammys, e eu tinha que perguntar:" Existe um jantar mais tarde? Uma festa?'", Diz Dean entre goles de sua bebida. "As pessoas estavam agindo como se fosse nada." Dean decidiu que era hora dela pressionar o botão de pausa. Então ele inventou um esquema. Ele inventou uma festa “Just Because (Só Porque)”. Só porque ela é incrível. Só porque ela é talentosa. Só porque ele a ama. Ele a jogou em um iate! "Você tem que ter tempo para celebrar o outro", diz ele, e ela concorda. "A vida passa rápido demais, se você não faz."

É meia-noite, e é a festa de encerramento do Stick Fly, uma peça da Broadway que Keys produziu. A cena é de comemoração, com direito a todos os queijos  e garçonetes sensuais. Um dos atores do elenco, Mekhi Phifer está lá em um banquinho de couro. Seu companheiro de elenco Dulé Hill aparece para conversar com Alicia que continua sendo arrancada de seu lugar para falar com um outro alguém. Todo mundo na mesa está falando com Dean, que é o tipo de cara que pode envolver qualquer pessoa em uma conversa profunda.

"Ela tem essas músicas novas que são loucas", diz ele. "Como você pode escrever sobre ela sem ouvir essas duas músicas?"

O casal se fala, e após alguns minutos, está decidido: Devemos todos nos empilhar no carro e seguirmos para o estúdio.

Cerca de uma hora da madrugada, em sua sala de gravação com pouca luminosidade, Alicia assume um lugar no Grandpiano Yamaha. Swizz está sentado em um banquinho da sala, sorrindo com os olhos fechados. Keys é o tipo de garota que parece à vontade em qualquer lugar, mas nunca tanto, como quando ela está no piano. Dedilha de cima para baixo as chaves do piano por alguns minutos, seus lábios curvados em um sorriso leve, com os ombros relaxados. Ela pára e sorri.

"Eu acho que estou preparada", diz ela. Então ela abre a boca, e é como se nada mais importasse no mundo. "Demorou um longo, longo tempo para chegar aqui", ela canta, "e eu sou corajosa, uma garota corajosa por tentar.


Entrevista realizada em Março pela Revista Vibe (USA) e publicada em 16 de Abril de 2012.
(Todos os Direitos Reservados).


AUTOR - SIOBHAN O’CONNOR
FOTO - JILL GREENBERG
ESTILISTA - LAURA JONES
MAQUIAGEM - FRANCESCA TOLOT
CABELO - ADIR ABERGEL




TRADUÇÃO PARA O PORTUGUÊS: EMILE ROCHA (MEMI) - EQUIPE ROLLING SOUL



Video: Behind The Scene

 

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