BACK TO BLACK: The Fugees



Dizem que quem vive de passado é museu. Mas eu prefiro o ditado que claramente descreve o sentido desta publicação: RECORDAR É VIVER. Principalmente quando essas recordações vem de um passado brilhante e relevante no que diz respeito ao presente e futuro. 
Essa é a nova edição do ‘Back To Black’, uma das colunas da sua revista preta eletrônica, a Rolling Soul. Nesse espaço semanal relembramos artistas e momentos importantes na trajetória da Black Music mundial.

Essa semana estamos relembrando uns caras e uma mina que fizeram muito barulho nos anos 90. Com uma mistura alucinante de ritmos, letras, rimas e vocais, que variam de metralhadoras em fúria à maciez do cantar de uma Diva Negra, eles ganharam o mundo e fizeram história. 

A década é 90, a mistura é louca e não é pouca, indo do Reggae enraizado em Bob Marley, passeando pelo Folk, o Soul, com pé forte no Crioulo e terminando num mergulho profundo na batida forte e consistente do Hip-HopAgora pegue essa mistura e aplique na veia de dois Rappers de estilos perceptivelmente diferentes de rimar e de uma Rapper e Cantora (sim com “C” maiúsculo mesmo) LINDA. Feito isso, temos o melhor grupo de Rap da história: THE FUGEES.






Tudo começou em 1993, quando a vocalista de New Jersey, Lauryn Hill - criada no subúrbio de  South Orange, escutando joias que iam de Curtis Mayfield e Aretha Franklin à Gladys Knights – conheceu, através de um amigo de escola, um cara chamado Pras Michel, nascido e criado no Brooklyn, Nova York, mas de família Haitiana refugiada nos EUA. Feito esse contato, Lauryn e Pras desenvolveram a ideia de criarem um grupo de Rap que rimaria em diferentes línguas. Desta ideia inicial surgiu o primeiro nome do grupo: Tranzlator Crew (algo como “Equipe Tradutora”). No grupo ainda tinha uma outra vocalista de nome desconhecido.
Certo dia, um primo multi-instrumentista do Pras resolveu ir conhecer a “bandinha” de seu parente. Esse cara é o grande Wyclef Jean, Haitiano também refugiado nos EUA, que logo substituiu a outra vocalista do grupo e se tornou o terceiro membro do trio. A partir de então o grupo passou a se chamar “Fugees” (Fugitivos), uma maneira depreciativa de se referir à aqueles que saíram de sua terra natal para se “refugiar” nos EUA, situação da família dos integrantes do grupo. 

Finalmente em 1994, eles assinaram com a Ruffhouse, mesma gravadora que revelou o grupo de Rap Latino, Crypres Hill. Com a Ruffhouse os garotos lançaram o seu primeiro álbum, Blunted on Reality”, apesar de ser uma produção artesanal e do álbum não ter sido um grande sucesso (#62 nos charts de R&B, 1994), o disco (um dos meus favoritos ever) é sem dúvida uma joia preciosa para os amantes do verdadeiro Hip-Hop. O álbum teve 3 singles: "Boof Baf""Nappy Heads" e "Vocab". Essas duas últimas se tornaram hits no cenário 'underground', mas sem muita repercussão nos demais charts (o que não quer dizer muita coisa). 

"Blunted On Reality" - 1º álbum do Fugees (1994)




Mas os ventos começaram a soprar a favor do trio. No começo de 1996, eles lançaram seu segundo álbum, que para o mundo foi o 1º, pois foi com esse álbum intitulado The Score” (#1 pop, #1 R&B, 1996) que eles romperam barreiras e representaram, muito bem, o poder do Rap mundo afora. Trazendo um discurso político e uma sonoridade diferente de tudo que se tocava na época, o disco estourou e se tornou um dos álbuns de Hip-Hop mais vendidos da história. Apesar do forte teor politico, o álbum também teve seu momento “POP”, o cover do clássico dos anos 70,  “Killing Me Softly”, sucesso na voz de Roberta Flack, se tornou o maior hit do grupo alcançando o #2 nos charts Pops e #1 nos charts de RnB. O single, "Killing Me Softly", rendeu ao grupo o Grammy de “Melhor Performance de RnB por Dupla ou Grupo Vocal”. A música é praticamente um solo da Lauryn Hill, mostrando sua potência como vocalista. Eles pretendiam mudar um pouco a letra, acrescentar versos de Rap, mas os autores da versão original não permitiram. Outras faixas do “The Score” que foram bem executadas foram:  "Fu-Ge-Laa" (#29 pop, #13 R&B, 1995), "Ready Or Not" (#22 R&B, 1996), e o cover do classico de Bob Marley, "No Woman, Not Cry"  (#38 pop, #58 R&B, 1996), que conta com a participação de Steve Marley, filho do Rei. Todos esses hits ajudaram o “The Score” a abocanhar o Grammy de “Melhor Album de Rap”
The Score” quebrou recordes, vendeu mais de 17.000.000 de cópias e deu ao Fugees o título de grupo de Rap que mais vendeu até aquele momento.
The Score - 2º álbum do Fugees (1996)
Ainda em 1996, o Fugees colocou nas prateleiras Bootleg Versions” (#50 R&B), uma espécie de coletânea de remixes e faixas não lançadas. A partir daí o grupo se separou e cada um dos integrantes se dedicou aos seus projetos solos. 
Bootleg Versions (1996) - 3º lançamento do Fugees, compilação de remixes e faixas não lançadas 


Wyclef foi o primeiro a se aventurar solo. Além de produzir hits para artistas como Destiny’s Child, com "No, No, No (Part 2)" (#3 pop, #1 RnB, 1997) e Carlos Santana  "Maria, Maria" (#1 U.S Billboard Hot 100, #1 US Billboard RnB/Hip-Hop Songs), ele lançou seu MARAVILHOSO primeiro álbum solo, o “The Carnival” (#16 pop, #4 R&B, 1997). Esse disco é uma verdadeira festa de celebração às suas raízes Haitianas, as faixas "Yelé" e "Jaspora" são raps em dialeto Haitiano. Mas os destaques do álbum ficaram por conta de "We Trying To Stay Alive" (#45 pop, #14 R&B, 1997), "Guantanamera" (#23 R&B, 1997) – Guatanamera trazia ainda a ilustre presençe da Diva Latina, Célia Cruz e da coleguinha do Wyclef, a Lauryn Hill, que por sinal me hipnotiza cantando em uma janela no vídeo de "Guantanamera" , tal qual uma Deusa Africana – e "Gone Till November" (#7 pop, #9 R&B, 1998). 
The Carnival - 1º álbum solo do Wyclef Jean (1998)


Em seguida foi a vez de Pras “andar sozinho”, com seu álbum solo "Guetto Superstar" (#55 pop, #35 R&B, 1998). Ele não estava tão só, além de contar com participação de artistas como Mya, Ol’ Dirty Bastard, e outros, ele teve uma mãozinha de seu primo e amigo/colega Wyclef Jean. Pras também fez alguns filmes.



Guetto Superstar (1998) - 1º álbum solo de Pras


Mas de todos os solos a que alcançou o topo foi Lauryn Hill em 1998, com seu PERFEITO, REVOLUCIONÁRIO, INCRÍVEL...(nem sei como descrever esse álbum) The Miseducation of Lauryn Hill” (#1 pop, #1 R&B, 1998). Com esse álbum a nega dominou a música Black/Pop em 1998. Nessa época ela já estava casada com Rohan Marley (filho de Bob Marley) e já tinha um filho, Zion (inspiração de uma de suas canções). O álbum teve hits como "Doo Wop (That Thing)" (#1 pop, #2 R&B, 1998), "Nothing Even Matters (ft. D'Angelo)" (#25 R&B, 1999), "To Zion (ft. Carlos Santana) (#77 R&B, 1999), e "Everything Is Everything" (#35 pop, #14 R&B, 1999). Além de "Lost Ones" (#27 R&B, 1998) e "Ex-Factor" (#7 R&B, 1999), que ajudaram a aumentar os rumores de que o fim de uma “tal” relação amorosa entre ela e seu “mano” de grupo, Wyclef, teria sido o motivo da separação do Fugees. Em 1999 ninguém segurou a Lauryn, ela levou 5 Grammys: “Album do Ano”, “Melhor album de RnB”, “Melhor Artista Revelação”, “Melhor Performance de Vocal Femino no RnB”, e “Melhor Canção de RnB”. Ao redor do mundo o álbum vendeu mais de 19.000.000 de cópias e é considerado uma das pedras fundamentais do movimento Neo Soul
The Miseducation Of Lauryn Hill (1998) - 1º álbum solo da Lauryn
Antes de estourar com o Fugees, a Lauryn também atuou em uma novela e no filme “Mudança de Hábito 2”(1993).


Em carreira solo, além dos trabalhos citados, todos os integrantes fizeram aparições nos trabalhos de outros artistas, e lançaram outros álbuns. Wyclef lançou mais 8 albuns e uma coletânea de Hits, Pras lançou um álbum digital, e Lauryn lançou seu Acústico MTV (CD/DVD).

Em 1998 o grupo se reuniu para gravar o clipe da bonitinha "Just Happy to Be Me", para “Sesame Street”.


Em 2003 saiu a coletânea Greatest Hits”, com os sucessos do grupo.


No ano de 2004 o grupo voltou a se reunir para uma performance exclusiva no filme/documentário "Dave Chappelle Block Party" .

Em 2005, depois de 10 anos sem aparecerem juntos na TV, eles abriram a premiação do Bet Awards, com uma memorável performance de 12 minutos, onde fizeram um medley com "Ready Or Not / Fu Gee La / Killing Me Softly". Nesse mesmo ano fizeram uma Tour Européia e vazou uma faixa chamada “Take It Easy” - uma das coisas mais fracas que o grupo já produziu – que sugeria o lançamento de um terceiro album que nunca foi lançado.




 Em 2006, depois da Turnê, os fãs do Fugees sofreram mais uma vez por mais um alarme falso, dessa vez o alarme falso se chama "Foxy", outra música vazada que seria o tal single oficial do retorno que, novamente, não aconteceu.

Nessa época os integrantes, Pras e Wyclef, declararam publicamente que não haveria mais uma reunião do grupo. Pras disse que jamais trabalharia ao lado de Lauryn novamente, mas continua mantendo contato com ela, e Wyclef sugeriu que, talvez, depois de um bom tratamento psiquiátrico a Lauryn possa estar em condições de se reunir com eles e fazerem um retorno decente para os fãs. Por motivos desconhecidos Lauryn e Wyclef não se falam mais.

Enquanto esse retorno não acontece ficamos com o legado importante que esse grupo deixou, não só musicalmente falando, mas também pela valorização da cultura negra e por todo o engajamento social e político do grupo e de seus integrantes separadamente.

CONVERSATION

0 comentários:

Postar um comentário

Instagram

@rollingsoulbrasil

Siga