Grafiteira Premiada eleita como uma das 150 mulheres que estão bombando no mundo!

Muros dividem espaços. Mas, para a grafiteira carioca Panmela Castro, servem para aproximar pessoas e discutir os direitos das mulheres por meio de imagens. “No muro, a arte toca todas as pessoas, independentemente de sexo, raça ou gênero. Mesmo sem querer, a pessoa acaba assimilando a ideia”, diz.Ela usa o grafite e a arte de rua como ferramenta para promover uma mudança cultural. “A igualdade está escrita no papel. Mas culturalmente as coisas são diferentes. Isso precisa mudar”, diz a grafiteira de 29 anos. 

Mais conhecida pela assinatura Anarkia Boladona, ela teve uma trajetória muito rápida e se destacou no universo ainda predominantemente masculino do grafite. Seu trabalho tem uma importante carga autobiográfica e aborda temas como as relações de poder sobre o corpo da mulher, a sexualidade e o desbravamento do espaço urbano pelo ser feminino. São imagens de mulheres fortes que refletem sobre as relações de gênero.
A convite de uma ONG de direitos humanos da Baixada Fluminense, a ComCausa, há dois anos Anarkia criou o projeto “Grafiteiras pela Lei Maria da Penha”. A iniciativa usa o grafite para divulgar essa lei aprovada em 2006 para proteger as mulheres da violência doméstica e combater a impunidade dos agressores. Um dos avanços dessa lei é considerar a violência doméstica como uma violação dos direitos humanos das mulheres. Outro é incluir na categoria de abuso as agressões psicológicas, morais e patrimoniais. Antes, o conceito se restringia às agressões físicas e sexuais. O nome Maria da Penha é uma homenagem à farmacêutica bioquímica que ficou paraplégica como resultado das agressões do marido. Ela se tornou um ícone dessa luta e foi retratada por Anarkia em murais.

Na companhia de uma especialista nessa lei, a advogada Ana Paula Sciammarella, e de um grupo de grafiteiras, Anarkia vai às comunidades carentes do Rio de Janeiro ministrar oficinas. Durante esses encontros, as mulheres falam sobre situações vividas no dia a dia e do seu entendimento sobre os próprios direitos. No desenrolar da conversa, Anarkia às vezes fala de episódios de agressão e omissão de direitos ocorridos com amigas, tias, primas e com ela mesma — ela morou com um rapaz que a agrediu, o que pôs fim à relação. Depois desse diálogo e de uma explicação sobre o funcionamento e o alcance da Lei Maria da Penha, as participantes pintam murais de rua com imagens e frases baseadas em suas vivências e na lei. “Assim as informações discutidas continuam sendo lembradas e passadas dentro da comunidade”, diz a grafiteira. As imagens que serão colocadas em murais também são tema de conversa. “Muitas mulheres dizem que, se soubessem antes dos direitos expostos nos murais e nas oficinas, talvez tivessem percorrido caminhos diferentes em suas vidas”, diz Panmela. 
pintura sobre aborto

A receptividade ao projeto multiplicou a quantidade de meninas engajadas nas questões femininas e fortaleceu a união de mulheres artistas de rua. Depois de trabalhar em conjunto com diversas organizações, elas entenderam que era hora de criar uma rede para levar adiante a ação. Isso levou ao surgimento, em maio de 2010, da Nami Rede Feminista de Arte Urbana. “Funciona como uma fonte de intercâmbio para que as meninas e mulheres que foram capacitadas continuem em contato e aprendam cada vez mais sobre artes, educação e direitos”, diz Anarkia. 
Ir às comunidades ouvir as histórias das mulheres mudou a forma de a grafiteira enxergar a condição feminina. “Muitas mulheres agredidas procuram justificar a causa da agressão ou chegam à delegacia declarando que não deram motivo. Como se houvesse algum motivo no mundo que justificasse uma agressão”, diz Anarkia. É por isso que o jeito como a mulher é vista e como ela se vê faz parte da conversa com as oficineiras. “As grafiteiras são referências para essas mulheres, que em contato com essas informações podem dar um novo rumo às suas vidas. Digo que uma mulher pode ser e fazer o que ela quiser”, diz.
O alcance do trabalho desta grafiteira está ligado à sua trajetória. Suburbana de educação rígida, sem permissão dos pais para ficar até tarde na rua, Anarkia começou a grafitar quando estava prestes a concluir a escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio. Tinha 23 anos, e estava insegura em relação ao futuro e preocupada em escapar do destino da maior parte das amigas: casar, ter filhos e fazer serviços domésticos. Na companhia de amigos, ela fez as primeiras pichações pela madrugada carioca. Decidiu então se autodenominar Anarkia, uma homenagem a si mesma por romper com os padrões. Nas ruas, ganhou o sobrenome “Boladona”, uma gíria originária do funk carioca por conta da sua personalidade forte e contestadora. Nessa fase, conheceu a grafiteira Prima Dona, que colocava em pauta as questões das mulheres dentro da cena do grafite. Aí percebeu que sua arte representava mais do que imagens em uma parede. “Possuía um conteúdo político. Era algo que eu poderia usar para ajudar outras mulheres a vivenciar seus direitos e dar continuidade ao trabalho iniciado há muito tempo por mulheres de outros lugares”, diz.
Começava aí o amadurecimento que levaria Panmela a ganhar, em 2010, o prêmio Vital Voices Global Leadership Awards, na categoria de direitos humanos. A premiação, sob a batuta da estilista Diane Von Furstenberg, dá voz a mulheres que lutam pela democracia, para aumentar as oportunidades econômicas e proteger os direitos humanos. Em 2010, o Vital Voices homenageou figuras que criaram estratégias para eliminar as barreiras que continuam a desafiar as mulheres. Fazem parte desse seleto grupo a pioneira antitráfico de mulheres Somaly Mam, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, e a ex-presidente do Chile Michelle Bachelet. A grafiteira também ganhou duas vezes o prêmio Hutúz. A primeira foi em 2007, como destaque do ano, e a segunda foi em 2009, como grafiteira da década. Trata-se do mais celebrado prêmio de cultura hip-hop da América Latina. 

A presidente Dilma Rousseff e a artista de rua Panmela Castro foram as brasileiras eleitas pelo site americano The Daily Beast para uma lista de 150 mulheres que abalaram o mundo. De acordo com o site, Dilma foi escolhida não apenas por ser a primeira mulher a ocupar o cargo de presidente do Brasil, mas por sua militância política. Panmela Castro aparece na lista por seu ativismo social.

Assista abaixo o vídeo da matéria realizada com a artista Panmela Castro recebendo o prêmio das mãos de Jessica Alba:




         Confira mais da Panmela Castro:

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